Se a minha vida fosse um Livro

De repente pensei que se a minha vida fosse um livro não poderia ter um estilo muito definido. Penso que oscilaria ente o romance e o humor, entre o mistério e um qualquer diário de viagens, entre a bricolage e a psicologia entre o absurdo e o considerado racional. Agora que penso nisso nunca poderia ser um livro de receitas culinárias, a não ser que me decidisse por algo como “o que nunca tentar na cozinha” ou mesmo “tentativas frustradas de um jantar perfeito”.

 

A capa seria branca teria de ser branca. Gosto do preto das palavras numa página em branco. Gosto de sentir que tenho espaço de manobra que posso ocupar este ou aquele espaço sem me sentir sufocada. Nem sei porque me estou a justificar. Gosto de branco e pronto.

 

Por entre palavras poderíamos ler histórias de sucesso e de derrota, ilusões que se transformaram em desilusões e amores que se transformaram em desamores. Entre lágrimas iriam surgir risos que, mais tarde seriam transformados em gargalhadas. Lições mais ou menos aprendidas e acções mais ou menos reflectidas. Certezas de vida opondo-se a incertezas momentâneas. Escolhas erradas e escolhas acertadas. Vida sentida porque só assim faria sentido.

 

Personagens mais ou menos periódicas e outras apenas de momento. Agitações constantes e recuperações de fôlego inconscientes. Palavras como Filhos, mãe, pai, mulher, letras, família, amigos, amores, comida, gatos seriam usadas frequentemente em frases onde existisse preocupação, amor, carinho, vontade e cuidado. Páginas soltas e páginas que ninguém conseguiria arrancar. Páginas lidas e umas que nunca ninguém se atreveu a ler.

 

Páginas em branco e páginas com excesso de letras. Páginas onde o orgulho é evidente e outras onde não nos orgulhamos mas assumimos que estivemos e fizemos. Paginas amarelecidas pelo tempo onde as letras mal se lêem e páginas onde os acontecimentos se encontram tão vincados que serão possíveis de apagar. Erratas aqui e ali. Páginas inacabadas e frases soltas. Frases esborratadas por lágrimas e outras onde foram desenhados sorrisos.

 

Na dedicatória seriam nomeados os que me apoiaram, os que estiveram e que ficaram os que passaram e os que ainda hão-de vir. Seriam igualmente nomeados os que, sobretudo, me ouviram quando eu precisei de falar, os que me ofereceram bilhetes de incentivo para onde eu queria ir e os que nunca duvidaram de que conseguiria chegar. No final gostava de poder escrever que gosto de ser quem sou, de ir para onde vou e de estar onde estou.

 

No final gostava de poder dizer que melhor do que viver é podermos dizer que vivemos sem medo do que os outros possam dizer mas sobretudo, sem medo de nos assumirmos como nós somos. Prefiro que me critiquem pelo que sou do que especulem sobre o que possa ser.

 

Se a minha vida fosse um livro gostaria de algures escrever que vida que tem de ser vivida em segredo, não é vida .

publicado por Marta às 11:57